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ATOS E FATOS DO COTIDIANO
J. Apolônio
Paraty-RJ - 2009
Acredite se quiser!
Era uma noite amena de início de primavera, quando em minha sala, com as janelas abertas e a porta fechada para a varanda, vendo os pirilampos piscando suas luzes na noite escura de meu jardim, bebericava numa taça com vinho e mordicava uns pedaços de queijo e assistia um filme na TV por assinatura, quando percebi penetrando pela janela uma enorme ratazana que se esgueirou pelos móveis da cozinha, fazendo com que me levantasse rapidamente, abrindo a porta da sala que dava para a varanda e com uma vassoura batia nos móveis e pia da cozinha, onde ela se escondera, no sentido que ela fosse embora do meu recinto.
Algum tempo depois, cansado e sonolento, achando que a ratazana tivesse saído, resolvi desligar a TV e ir para o meu quarto, donde deitado poderia continuar a ver o filme que assistia. Assim o fiz.
Como era comum, sempre dormia e deixava a TV ligada, com a sua luz em penumbra a clarear o quarto.
Por algum tempo, sem precisar a hora, acordei com um movimento incômodo no meu ouvido, olhei ao lado e nada percebi. Imaginei que fosse alguma mariposa que, sem perceber sua presença no quarto, houvesse-me batido suas asas; e assim voltei a dormir.Eis que tempo depois, voltei a sentir o mesmo incômodo na orelha, porém com mais força. Acordei assustado e pude ver num relance, através da luz que emanava da TV, a ratazana que se esgueirava por debaixo da porta do quarto em direção à sala. Ela se comprimia toda para passar por baixo da porta de uma forma que me impressionou. Levantei-me rapidamente, abrindo a porta do quarto e penetrando na sala, com as chaves na mão, abrindo a porta da cozinha, onde estava a vassoura, e a da sala que dava para a varanda, quando observei que ao lado desta última havia muita serragem no seu pé; ela tentara fazer um buraco para sair. Reiniciei as pancadas com a vassoura nos móveis, pia e chão para que a intrusa saísse de minha casa. Como não a vi saindo, resolvi bebericar um pouco mais de vinho, assistindo a TV, até que ela se fosse, caso se mantivesse na sala. Assim fiquei algum tempo ali, aguardando que a intrusa fosse embora. Mas passei a me perguntar a razão de tudo aquilo, pois nunca antes tinha visto algo parecido. Analisando o acontecido, quando me encontrava mais tranquilo, concluí que a ratazana agira daquela forma por uma razão muito simples, que era da mãe preocupada com suas crias.
Ela descera pela janela até a minha sala, através do seu olfato, em razão do queijo que mordicava, correndo o risco de ser morta, para conseguir alimento para si e sua cria. Ao sentir-se prisioneira, sem poder sair, após tentar em vão corroer a porta que dava para a varanda, resolveu acordar aquele humano para que lhe abrisse a porta, angustiada que estava pelos seus filhotes desprotegidos.
E, assim, ela se evadiu do meu recinto.
E, com tudo isso, pude compreender que os ratos possuem inteligência e sentimento, ao contrário de ratos outros.
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